quinta-feira, 29 de novembro de 2012

HERÓIS INESQUECÍVEIS (7) - BERNARD PRINCE

Sob a autoria de Hermann, Bernard Prince, apareceu pela primeira vez a 4 de Janeiro de 1966, na edição belga da revista "Tintin". Foram sete histórias curtas, as cinco primeiras com quatro pranchas e sob total autoria do próprio Hermann; a sexta, "Uma Lanterna para um Pequeno Polegar", é de seis pranchas e tem guião de Chaderic e a sétima, "A Fuga do Cormoran", também em seis pranchas, já tem argumento de Greg.
Greg e Hermann
É este argumentista (bem saudoso) que passa a assinar os guiões de todas as aventuras de Bernard Prince e desenhadas por Hermann, no total de vinte, entre longas, médias e curtas.
Dany
Greg assina também as três aventuras desenhadas por Dany ("A Cilada dos 100.000 Dardos", "Nictalope" e "Tempestade Sobre o Cormoran") e as duas desenhadas por Edouard Aidans ("La Dynamitera" e "Le Poison Vert").
  
Édouard Aidans
Em 2010, Hermann retoma (para continuar?...) com este seu herói-ícone em "Ménace Sur le Fleuve", mas desta vez, com argumento de seu filho, Yves H. (aliás, Yves Huppen).
Bernard Prince filia-se naquele maravilhoso grupo de heróis-BD que tanto entusiasmaram e entusiasmam os leitores, como Bruno Brazil e Bob Morane.
A sua aparência física vai-se modificando com a evolução dos tempos e do talento consciente de Hermann. Nas suas primeiras (curtas) sete aventuras e na longa "Os Piratas de Lokanga", nota-se  bem o traço "primitivo"... diríamos melhor, "em rodagem", que dá sinais de mudança em "O General Satã".
Depois, funciona um traço constante até à última, "O Porto dos Loucos".
 

Na aventura mais recente, o salto é bem notável, pois Bernard Prince e o seu gordo e pândego companheiro Barney Jordan estão envelhecidos e  o garoto indiano adoptado por Prince, o traquina Djinn, está agora um mocetão atlético.
Utilizando os personagens desta série, Jacques Acar escreveu em tempos um romance (inédito em Portugal), "Mabuhay, Mister Prince!...".
Algumas aventuras de Bernard Prince foram editadas por cá em álbum, pela Bertrand, Editorial Ibis, Distri, Meribérica-Líber e Vitamina BD.
Entretanto, diversas histórias deste tão aplaudido herói, foram publicadas nas revistas "Tintin" (edição portuguesa), "Mundo de Aventuras" e "Selecções BD".
Por sua vez, todas as aventuras (excepto a última) de Bernard Prince, desenhadas por Hermann, foram reeditadas na versão "integral" (três volumes) pelas Éditions du Lombard. Uma reedição obrigatória de leitura por todos os "princeófilos", dado aos dossiês históricos e elucidativos que se inserem em cada volume. A bom entendedor...
Prancha de Bernard Prince por Édouard Aidans
O mais recente álbum de Bernard Prince, assinado por Hermann e Yves H.
Bernard Prince - Intégrale (tomo 1)

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

NOVIDADES EDITORIAIS (20)

PORTUGAL - É um álbum de luxo, em diversos aspectos, este magnífico "Portugal" de Cyril Pedrosa, agora em português, sob edição Asa, que teve lançamento oficial no AmadoraBD 2012, com a afável presença do autor.
Com uma relativa ficção, Cyril marca aqui, sentidamente, o seu encontro (estivera por cá em garoto) com o país dos seus antepassados. Aqui conta a sua autêntica descoberta de Portugal, país pelo qual, como num amor à primeira vista, logo se apaixonou. É interessante o relato que ele faz do sistema familiar em que se insere na sua França natal, das razões porque enfim tornou a Portugal, donde de imediato se propôs elaborar este álbum, apoiando-se em pleno nos registos que por cá fez em 2006 e nos dois anos consequentes. Não faltam as suas auto-interrogações, sobretudo pelo que estava a acontecer irremediavelmente (e positivamente também) no seu espírito e na sua experiência humana e geográfica.
"Portugal", álbum já várias vezes premiado em França, é uma obra para se ler com muita atenção e carinho e ainda, com amigo e respeitoso reconhecimento a Cyril Pedrosa.

OEIL DE CIEL - É o 15º tomo da série "Bois-Maury" (ou "As Torres de Bois-Maury"), que nos foi enviado e ofertado directamente por Hermann, seu genial grafista. O argumento é de seu filho Yves.
E já não estamos na Idade Média, mas em 1660...na mexicana região do Yucatan. O "senhor de Bois-Maury" é o único francês integrado numa expedição espanhola que, através de uma selva densa e luxuriante, busca o oiro de uma lendária cidade perdida.
De repente, o povo local ataca-os. Os espanhóis procuram fugir e escapar com vida. Porém, Bois-Maury, teima em continuar a sua busca, seja para ficar rico seja para se perder definitivamente...
Se o argumento de Yves H. é apaixonante, a arte gráfica de mestre Hermann, pura e simplesmente, cilindra-nos.

MARIANNE - Com argumento de Jean-Christophe Derrien e traço de Claude Plumail, com edição Lombard, "Marianne", é o terceiro tomo da bela e dramática série "Résistances".
No sufocante ambiente político na França de 1942, este é mais um notável episódio sobre os heróicos e sofredores resistentes franceses ante a fúria e a desumanidade dos alemães hitlerianos e seus cúmplices franceses, num país glorioso que agora está dividido e abafado por terríveis angústias. Leitura a não perder!

SUPER-GÉNIE - É o 43.º tomo da impagável série "Léonard" por Bob de Groot (texto) e Turk (grafismo), com edição Lombard. E custa a crer que esta série tão divertida e tão popular pelos povos francófonos (e não só), não tenha tido, até agora, uma devida divulgação para os bedéfilos portugueses!...
Estamos numa intensa amargura de vida devido à crise, à "troika" e às desgovernações, mas... será mesmo que perdemos a capacidade de rir, nem que seja através de uma bem achada série-lenitivo da Banda Desenhada? Os portugueses não são apenas a tristeza do Fado!

DRÁCULA / 3 - Sob edição conjunta da Casterman e da Michel Lafon, é o terceiro e último(?) tomo da série "Dracula, l'Imortel". Com base na obra homónima de Dacre Stoker e Ian Holt, a bem conseguida adaptação a BD tem argumento de Michel Dufranne, traço de Piotr Kowalski e cores de Svart.
O tenebroso Drácula parece eterno e imortal. Aparentemente é aniquilado, mas acaba por reaparecer para continuar a embebedar-se com sangue humano.
A última vinheta deste álbum mostra o famoso navio "Titanic" na sua fatídica viagem inaugural...

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

ENTREVISTAS (8) - CARLOS ALBERTO

De seu nome completo, Carlos Alberto Ferreira Santos, nasceu em Lisboa, onde reside, a 18 de Julho de 1933. 
Extraordinário ilustrador e pintor, criou também um bom lote de narrativas pela Banda Desenhada e elaborou ainda várias colecções de cromos ("História de Portugal", "Trajos Típicos de Todo o Mundo",etc).
Começou a trabalhar para a publicidade e depois, estreou-se na 9.ª Arte com "O Escudo Sarraceno" para a revista "Camarada", história que ficou incompleta dado a extinção da revista.
Depois, neste campo, a sua actividade registou-se em "Mundo de Aventuras", "Pisca-Pisca", "Jornal do Cuto", "Colecção Audácia", "Mini-Época", Diário do Sul", "Almada-BD Fanzine", "Cadernos SobredaBD" e "Alentejo Popular", tendo-se editado em Espanha pela Bruguera. 
Elaborou capas famosas para a revista "Zakarella" da Portugal Press, bem como a capa para o álbum colectivo "Salúquia: a Lenda de Moura em Banda Desenhada", editado pela Câmara Municipal de Moura.
Da sua Banda Desenhada, salientam-se "Camões" (editado a preto e branco pela Agência Portuguesa de Revistas e depois, a cores, pela Asa), "O Rei de Nápoles" (no álbum colectivo "Contos das Ilhas", pela Asa), "História Maravilhosa de João dos Mares", "Ousadia Triunfante", "Tarzan e a Escrava", "O Combate de Pembe", "A Espada Nazarena", "O Santo Condestável", "Capitão Bravo", "O Infante Santo", "O Almirante das Naus da Índia","Em Busca de Provas" e "Os Fidalgos da Casa Mourisca" (em oito fascículos, segundo a obra homónima de Júlio Diniz).
A sua Pintura está representada em diversos museus nacionais e estrangeiros. Foi premidado pela Academia de Marinha e homenageado nos Salões-BD de Sobreda, Moura, Lisboa, Viseu e Amadora. Devido a problemas sérios com a vista, teve de abandonar, com mágoa, a execução da Banda Desenhada, dedicando-se apenas à Pintura.
Mestre Carlos Alberto é hoje e aqui, o nosso convidado, através da breve entrevista que se segue:

BDBD - Apesar de não criar mais BD, continua a acompanhar esta Arte?
Carlos Alberto (CA) - Pois... Vou vendo e acompanhando as novidades que vão saindo. Continuo com a Pintura, já que o estado actual da minha visão não me permite continuar com a Banda Desenhada.

BDBD - Crê que as novas gerações de desenhistas estão a abranger bons valores?
CA - Pelo menos, há novos valores diferentes. Sobretudo, há novos processos que tenho apreciado com gosto e a devida curiosidade.

Capa do álbum "Camões"
BDBD - Da sua obra BD, há alguma da sua preferência?
CA - Indubitavelmente, "Camões". Foi aqui que atingi o ponto máximo do que eu, até então, conseguia dar no desenho. É natural que, se continuasse, talvez abordasse outras e novas técnicas.

BDBD - Como vê a ausência de BD na nossa grande Imprensa?
CA - Creio que há falta de sensibilidade da parte desses jornais...

BDBD - E de Cultura também?
CA - Não acuso tal... Não me atrevo... Mas, por sua vez, os nossos desenhistas deviam ter a coragem de insistir junto de quem de direito desses diários e semanários. Repare que tais periódicos se esbanjam em várias páginas sobre desporto, mormente o futebol, quando já existem tantos periódicos desportivos...

BDBD - E quanto aos nossos editores em relação à BD, qual é o seu parecer? Acha que apoiam a BD portuguesa?
CA - Acho que não. Mas, como as tiragens de cá são tão miseráveis, talvez não compense pagar bem aos nossos artistas. Quando o "Camões" saiu no "Mundo de Aventuras", havia a compensação de várias obras estrangeiras, sempre mais baratas. Na altura recebi bem, sem no entanto, ser devidamente compensando pelo trabalho que tive.

BDBD - E a sua Pintura, dá-lhe para sobreviver sem crise?
CA - O que me dá a Pintura, dá-me para me aguentar com a crise, sem me desnortear... Ultimamente, trabalho com e para encomendas, sem ser via exposições.
Prancha de "O Combate de Pembe"

Zakarela - ilustração de Carlos Alberto

Cadernos Sobreda BD n.º 20, dedicado a Carlos Alberto

Prancha de "O Almirante das Naus da Índia"

Capa do Mundo de Aventuras n.º 752

domingo, 18 de novembro de 2012

NOVIDADES EDITORIAIS (19)

TRÊS  SOMBRAS - Da autoria de Cyril Pedrosa e com edição Polvo, finalmente no nosso idioma, esta magnífica obra, com cerca de trezentas páginas e, necessariamente, a preto-e-branco.
É um argumento intenso, enigmático, abafador... mas que tão belamente se desenrola com o sonho, o pesadelo, a esperança... Uma obra estranha e rara, que se procura ler de um só fôlego. E que nada nem ninguém nos perturbe durante esta leitura...
No grafismo, de notar em certas passagens, os extraordinários "jogos" do preto e do branco.
Muitos aplausos ao Cyril Pedrosa e à Polvo, que teve a ousadia de editar "Três Sombras".

L'ÉPOUVANTAIL - Traz a chancela das Éditions Casterman. Baseia-se a história num romance de Ronald Hugh Morrieson, com adaptação (argumento) de Olivier Cotte. Um assunto forte e dramático.
"L'Épouvantail " (O Espantalho), localiza-se na Nova Zelândia, num clima entre o policial e o terror. E o que melhor marca esta obra-BD, é a bela e invulgar arte gráfica de Jules Stromboni, desenhista praticamente desconhecido entre nós.
Um álbum que nos aponta para uma entusiasmante leitura.


BDJORNAL / 29 - Há muito esperado, aí está um novo "BDJornal", coordenado pelo incansável Machado Dias.
Desta vez vem muito rico no seu conteúdo, do qual salientamos a homenagem a Jean Giraud/Moebius, uma história inédita  de "Tex" pelo traço de Fabio Civitelli, as entrevistas com Filipe Melo e Juan Cavia, etc.
Porém, o que nos emocionou, foi a evocação do saudoso José Abel (1948-1993), sempre tão injustamente esquecido no universo português da Banda Desenhada. Parabéns ao João Lameiras e ao Leonardo De Sá pelos textos biográficos de que são autores.
Em situação paralela com a de José Abel, há também a do saudoso André... Talvez um dia o recordem com a mesma justiça.


TODOS POR CONTA PRÓPRIA - É a novíssima narrativa com Lucky Lukepublicada em simultâneo na versão francófona e em português (pelas edições Asa). Seguindo o herói-série criado pelo malogrado Morris, desta vez, o grafismo é de Achdé e o argumento da responsabilidade de Daniel Pennac e Tonino Benacquista.
Uma situação, quase impensável, acontece: os "tenebrosos" irmãos Dalton (Joe, William, Jack e Averell) entram num ridículo desaguisado, onde apenas três têm um ponto de acordo: estão fartos da ditadura caprichosa do mano Joe. Separam-se e, com cada um por sua conta, algum terá de provar que merece ser o novo líder do grupo.
E que faz Lucky Luke no meio desta trapalhada?... O álbum conta a história.


L'ESPRIT DE LA CITÉ - Com edição Lombard, "L'Esprit de la Cité", é o segundo (e último, pelo que cremos) tomo da série "Escobar, le Dernier Maya". Autoria: Louis.
Enigmáticos aspectos das lendas maias e situações bizarras da violência dos conquistadores espanhóis, juntam-se aqui numa série que vibra através de algumas pranchas espectaculares.
Uma série com muita força e marcantes enigmas.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

ENTREVISTAS (7) - CYRIL PEDROSA

Existia, desde 1982, o Salão-BD da Sobreda (concelho de Almada), que se iniciou humildemente, mas com todo o entusiasmo. O seu carola fundador, cedo fez nascer o GBS-Grupo Bedéfilo Sobredense, e tudo foi evoluindo (mas este assunto é provável tema para um futuro próximo...). Em Maio de 2006, data da última edição até agora acontecida, três artistas franceses foram convidados: Annie Goetzinger (a homenageada) e, como "convidados de honra", os luso-descendentes Cyril Pedrosa e David Cerqueira (este, numa atitude bem incorrecta, falhou). Cyril, tal como Annie, chegaram a 26 de Maio e "partiram" a 29...
Cyril Pedrosa
E como, agora e aqui, é de Cyril Pedrosa que se trata, ele logo cativou em absoluto todos os elementos da Organização (GBS e Junta de Freguesia de Sobreda), tendo deixado inapagáveis saudades.
Depois, esteve no Festival da Amadora, cremos que em 2009. E tornou em pleno e em glória ao "AmadoraBD 2012".
Já começa a dizer bem "algumas coisas" no nosso idioma. É neto de portugueses (da região da Figueira da Foz), nasceu em Poitiers a 22 de Novembro de 1972, residindo actualmente em Nantes.
A sua vinda ao Festival da Amadora deste ano, deve-se a um facto raro: dois álbuns seus foram aqui lançados em simultâneo e em edição portuguesa: "Portugal" pela Asa e "Três Sombras" pelas edições Polvo.
Na sua bibliografia contam-se diversos outros títulos, como: "Les Coeurs Solitaires", "Auto-Bio" (em dois tomos), "Ring Circus" (com 4 tomos, dos quais só o primeiro foi editado em português), "Shaolin Moussaka" (3 tomos) e a participação em colectivos como, "La Fontaine aux Fables", o erótico "Premières Fois", "Paroles de Poilus" e "Francis Cabrel". Em conclusão, ainda este ano, "Chasseurs-Cueilleurs".
E ocasionou-se a entrevista que se segue:

BDBD - Dois álbuns teus apresentados em simultâneo na mesma festa-BD. Isto não é lá muito normal, pois não?
Cyril Pedrosa (CP) - Não, não é nada normal. Foi uma sorte. Aconteceu! E deu-me muito prazer, pois até tenho muitos familiares que não falam francês e queriam conhecer/ler as minhas obras... Em especial, "Portugal", por óbvias razões.

Prancha de "Portugal"

BDBD - As tuas presenças nas festas-BD em Portugal começaram no Salão Internacional "Sobreda-BD/2006". O que guardas em ti dessa ocasião?
CP - Para mim, foi um momento muito importante na minha vida. Senti-me tal como descrevo no meu álbum "Portugal. Gostei imenso, tocou-me imenso e logo decidi que iria fazer um álbum versando a minha "descoberta", o meu verdadeiro e consciente encontro com Portugal.

BDBD - Mas a Sobreda era um pequeno Salão... Gostas destas festas pequenas ou preferes as grandes como Angoulême, Barcelona, Amadora?...
CP - Na verdade e em geral, não gosto de ir aos salões-BD. Só vou quando há algo que me entusiasma para tal. Não se trata de saber se o salão é pequeno ou grande... Eles são todos, por norma, repetitivos, e quase sempre, pouco há de novo a entusiasmar-me...

BDBD - "Três Sombras" esteve indicado para ser levado ao Cinema com actores de carne e osso, pelos norte-americanos. Esse projecto foi cancelado?
CP - Não, de princípio, não era pelos americanos, mas pelos franceses. Esse projecto foi, de facto, anulado. Surgiu depois uma produtora norte-americana que estava interessada, caso os franceses não fossem adiante... Entraram em contacto com a Delcourt, a minha editora desse álbum... Aguardo notícias, embora saiba que é sempre muito complicado adaptar a BD ao Cinema.
Prancha de "Três Sombras"
BDBD - A tua tão divertida série "Auto-Bio", vai continuar?
CP - Não...Parei. Não pensava sequer em fazer estas pranchas em álbum... Foram para a revista "Fluide Glacial"... Nessa ideia e nessa continuidade, não iria inventar nada de novo e, para não me repetir, parei.

BDBD - O teu próximo álbum, "Chasseurs-Cueilleurs", versa a solidão de alguns, mesmo quando cercados de uma multidão humana. Sentes também essa solidão?
CP - Sim, creio que como toda a gente. Não é bem o caso de pessoas que vivem sós... Não é propriamente a solidão física, mas a solidão como que de nós próprios... Por exemplo: haver qualquer coisa de belo ou não, mesmo pequena, mas que não conseguimos partilhar com os outros... Este álbum não fala só disto, mas é o ponto de partida.

BDBD - Voltarás a Portugal?
CP - Sim, sem dúvida! Não sei, assim de repente, quando... mas lá para diante veremos. Penso que virei mesmo muitas vezes. E digo-te: até gostaria de ficar por cá a viver algum tempo e então, aproveitar para conhecer mais e melhor Portugal.

Até breve então, Cyril!

domingo, 11 de novembro de 2012

HERÓIS INESQUECÍVEIS (6) - VINCENT LARCHER E ERIC CASTEL

CHUTANDO AOS QUADRADINHOS COM
VINCENT LARCHER E ERIC CASTEL

Frequentemente o Desporto é tema na Banda Desenhada ou Histórias aos Quadradinhos: atletismo, ténis, boxe, ciclismo, hóquei, hipismo, automobilismo, etc, não esquecendo, obviamente, o futebol. Esta modalidade também foi abordada por nossos desenhistas: Vítor Péon ("João Davus"), Artur Correia ("Era Uma Vez Uma Águia", "Era Uma Vez Um Leão" e "Era Uma Vez Um Dragão"), Eugénio Silva ("Eusébio, o Pantera Negra"), José Garcês ("Zé Miúdo") e Francisco Fernandes ("A História do Marítimo"). Mas "a cereja no topo do bolo" recai, sem qualquer dúvida, nas séries "Vincent Larcher" e "Eric Castel", admiravelmente criadas pelo francês Raymond Reding (1920-1999).
Dado que ambos, Larcher e Castel, são futebolistas, há um certo paralelismo nas duas séries, no entanto, com diferenças marcantes.

VINCENT LARCHER estreou-se a 25 de Junho de 1963, na edição belga da revista "Tintin", contando hoje com sete álbuns, constando que uma oitava aventura nunca tenha sido publicada. Larcher é avançado-centro da Associazione Calcio Milan, vulgo A.C. Milan, e quase sempre as suas proezas desportivas andam misturadas com os ambientes bizarros do esoterismo. Seu grande amigo, é o cientista atlético e mutante, Olympio.
Prancha de Vincent Larcher
Em Portugal, apenas um álbum, "Futebol e Minissaias", quarto álbum da série, foi publicado em 1974 pela Bertrand. A primeira aventura, "Olympio 2004", também foi
publicada entre nós na edição portuguesa da revista "Tintin".

ERIC CASTEL estreou-se a 13 de Fevereiro de 1979 na revista francófona "Super As". Castel iniciou-se no Inter de Milão, com passagem efémera, para logo se tornar vedeta do Futbol Club Barcelona, vulgo Barça. Esta série ficou-se pelos 16 álbuns, mas, bizarramente, nenhuma aventura de Castel foi publicada em Portugal....
Prancha de Eric Castel
Os aspectos envolventes desta série versam o policial e situações sociais, sobretudo no que diz respeito à equipa infantil, "Os Pablitos", que tanto admira Castel.
De notar nestas duas séries, a perfeita arte gráfica de Reding, sabedor da anatomia e do movimento dos atletas, que, aliás, também "retrata" (desenha) nas outras séries desportivas a que se dedicou.
Mas, de Raymond Reding, falaremos em ocasião futura, pois a sua BD "desportiva" é mais vasta e merece bem o entusiasmo de qualquer bom cidadão.
  

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

AMADORABD 2012: O BDBD ESTEVE LÁ!

Cartaz do Amadora BD 2012, com desenho de Paulo Monteiro
Oficialmente, a 23.ª edição do Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora começou a 26 de Outubro e terminará a 11 de Novembro. Mas, já antes da inauguração oficial, outras manifestações afins tiveram lugar, até em espaços da cidade de Lisboa. O BDBD  visitou algumas vezes esta grande festa da 9.ª Arte.

José de Matos Cruz, Jorge Magalhães, Luiz Beira, Jhion (João Amaral)
e Miguel Perez durante o lançamento de "Cinzas da Revolta"
Não podíamos estar em todas as mais marcantes ocasiões, de tão espalhadas e com datas tão diversas ante as efemérides...
Mas eu (LB), fui à apresentação-lançamento do álbum "Cinzas da Revolta", acontecido na ex-livraria Buchholz, hoje Livraria Leya-Buchholz, na Rua Duque de Palmela, em Lisboa. A par, uma exposição de pranchas. Havia muita gente bedéfila interessada e curiosa. Os autores, João Amaral (agora Jhion) e Miguel Peres, foram apresentados por Maria José Pereira (da editora Asa/Leya) e Nelson Dona (o coordenador do Festival da Amadora). Aconteceu a 19 de Outubro, às 19 horas, seguindo-se um Porto/Moscatel de Honra.
Maria José Pereira, Cyril Pedrosa e Mathieu Sapin, durante
a apresentação do álbum "Portugal".
A 25 de Outubro, volto a representar o BDBD numa sessão de luxo no Institut Français du Portugal (Rua Luís Bívar, 91 em Lisboa), onde, às 21:30 horas, se deu início à sessão, com a digna presença do Sr. Embaixador de França em Lisboa (Sr. Pascal Teixeira da Silva, descendente de portugueses). Foi a apresentação biográfica de Cyril Pedrosa (em especial pela edição em português, via Asa, do seu tão premiado álbum "Portugal") e de Mathieu Sapin (casado com uma portuguesa, que fala português e que está entre nós a documentar-se para uma BD localizada em Lisboa). Cyril, por sua vez, que lá vai começando com todo o empenho a captar o idioma dos seus antepassados, é neto de portugueses. Maria José Pereira conduziu este bela sessão. Houve depois um pertinente diálogo entre vários dos presentes e os dois artistas franceses.
(Curiosidade à parte: o Sr. Embaixador Pascal Teixeira da Silva e Cyril Pedrosa são franceses descendentes de portugueses e eu, português, sou neto de uma francesa!...).
E o BDBD tornou, agora, mesmo à Amadora (Fórum Luiz de Camões) a 28 de Outubro e a 3 de Novembro (desta vez, já fui acompanhado pelo "sócio" Carlos Rico e pelo fotógrafo Orlando Fialho,de quem são algumas das fotos que ilustram este texto).

Sessão de autógrafos: um dos pontos de interesse do festival.
Foram lançados vários álbuns e houve animadas sessões de autógrafos. Muitos desenhistas portugueses de várias gerações e, ante as gratas presenças estrangeiras nesta edição do AmadoraBD, salientamos as dos franceses Cyril Pedrosa, Fabrice Néaud, Edmond Baudoin e Mathieu Sapin, os brasileiros Mike Deodato Jr. e Sama, a catalã Laura Pérez Vernetti, o holandês Peter Pontiac, o suíço Zep, a belga Dominique Goblet e os norte-americanos Carol Tyler e Justin Green, entre outros mais.
A concluir, passo (eu, LB) a palavra a CR (Carlos Rico),que fará o sincero "julgamento" desta festa-BD:

Não sendo habitualmente responsável pelos textos deste blogue, aproveito a oportunidade para deixar aqui os meus parabéns a toda a equipa do Nélson Dona e da Cristina Gouveia por terem conseguido erguer, um ano mais, um festival com a dimensão e a qualidade do Amadora BD. Este facto é justamente de realçar atendendo ao período de "vacas magras" que estamos atravessando e que tem servido de desculpa para adiar, parar ou até mesmo eliminar tantas coisas boas neste país... Felizmente o Amadora BD sobrevive ao "tsunami" (o festival de 2013 parece estar confirmado) e isso é já uma excelente vitória para quem gosta de banda desenhada.
Poder-se-ia pensar que este facto teria afectado a qualidade do festival. Puro engano já que a organização caprichou nas exposições (aliás, já o ano passado assim acontecera). De todas, destaco duas.
Exposição sobre os 50 Anos do Homem-Aranha
Os 50 Anos do Homem-Aranha foram comemorados de forma brilhante, com uma cenografia e um conteúdo que - tenho a certeza - perdurará na memória de todos durante muito tempo (o pormenor da tarântula a guardar a revista n.º 1 foi genial!). O conjunto de originais expostos (cedidos pelo Museo del Fumetto de Milão, por alguns coleccionadores e pelos próprios autores, em alguns casos) é de respeito pois apresenta nomes como John Romita Sr. e Jr., Sal Buscema, Larry Lieber, entre outros, aos quais se juntaram (e muito bem!) os nossos Nuno Plati e Filipe Andrade. Tivemos, também, a presença de Mike Deodato, um dos grandes desenhadores do aracnídeo, que espalhou autógrafos e simpatia pelos inúmeros fãs portugueses que, pacientemente, aguardavam pela sua vez. Nota dez para o brasileiro!
Exposição de Paulo Monteiro
Também gostei muito da exposição dedicada a Paulo Monteiro, com uma cenografia excelente, a fazer lembrar o interior de um monte alentejano (as cores e a textura das paredes estavam perfeitas!), para além das magníficas pranchas e ilustrações do Paulo, que continua com a sua carreira "de vento em popa", agora preparando-se para publicar "O Amor Infinito que te Tenho" em vários países da Europa. Estivemos à conversa (mais o filho dele, o "Manel") e recordámos os bons velhos tempos em que o Paulo, a Susa e muitos outros elementos do Atelier Toupeira vinham até Moura e nos ajudavam a montar algumas exposições dos salões Moura BD, até às tantas da manhã, no 1.º andar do Mercado Municipal (um abraço aos "Toupeiras", como nós, carinhosamente, os tratávamos aqui em Moura!)...
Voltando ao Amadora BD, devo dizer que, mais uma vez, não consegui ver todo o festival atendendo à distância entre os diferentes núcleos. Para quem vem de longe, como eu, e com o tempo contado, não há alternativa possível: é ver o núcleo principal a correr, conversar um pouco com amigos e colegas, estabelecer alguns contactos para o salão de Moura, correr para os Recreios da Amadora para ver um pouquinho da entrega de Prémios e pronto, está feito! 
Em resumo, a visita ao festival da Amadora recomenda-se a todos os que, como nós, têm o gosto pela 9.ª Arte. Aproveitem e passem por lá este fim-de-semana...

Exposição "Autobiografia"

Exposição de Ricardo Cabral

Exposição de Victor Mesquita

Exposição de Zep ("Titeuf")
Victor Mesquita folheando o fanzine sobre Franco Caprioli, editado recentemente pela Câmara de Moura

Baptista Mendes e Eugénio Silva, à conversa
A exposição de Paulo Monteiro e, ao fundo, a dos 50 Anos do Homem-Aranha
Exposição de José Carlos Fernandes
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