segunda-feira, 4 de setembro de 2017

BD E HISTÓRIA DE PORTUGAL (14) - D. AFONSO HENRIQUES

D. Afonso Henriques, primeiro Rei de Portugal
A verdade e as lendas sobre a vida e a obra do nosso primeiro rei e fundador da Pátria, confundem-se...
Dom Afonso I, mais conhecido como Dom Afonso Henriques (porque filho de Henrique, o conde vindo da Borgonha), ganhou para a História o cognome de “O Conquistador”. Mas, muitas vezes, é mesmo a lenda que se sobrepõe e queima a verdade histórica nas mentes fáceis e pouco pensantes do nosso Bom Povo...
Não há data absolutamente certa do ano em que nasceu, mas a mais “garantida”, é apontada para o ano de 1109.
E onde nasceu? Os historiadores dividem-se entre Guimarães, Viseu ou Coimbra. Com certeza, é porém nesta cidade, na Igreja de Santa Cruz, que está o seu corpo num túmulo com uma estátua jacente.
Nas abomináveis lendas, estão as de que era filho de Egas Moniz e não de D. Henrique e Dona Tareja; a de que ele “bateu na mãe”, quando esta foi apenas aprisionada e depois exilada; e a da visão-milagre antes da Batalha de Ourique (ainda hoje não se sabe onde era esta Ourique...).
Mas o nosso povo (e no interesse de alguns políticos), tão doentiamente apaixonado por folhetins e telenovelas, acredita puerilmente nestas convenientes patranhas, como acredita no “Milagre das Rosas”, nas “Aparições em Fátima”, no “Pai Natal”...
Atendendo a este “romantismo”, afirma-se porém (é verdade!) que “O Conquistador” foi pai de seis filhos legítimos (com sua esposa D. Mafalda, às vezes chamada de Matilde) e mais cinco, ditos bastardos.
D. Afonso Henriques foi de uma invejável coragem combativa pela fundação do Reino e da Pátria, sempre impondo os seus ideais contra Leão-Castela, contra os Sarracenos e até, contra o prepotente Papado (exemplo: o conto “O Bispo Negro” de Alexandre Herculano). E venceu!
Muito se tem escrito sobre o nosso primeiro monarca, donde, por exemplo: Luiz Vaz de Camões (“Os Lusíadas”), Frei António Brandão (“Crónica de D. Afonso Henriques”) e Alexandre Herculano (“História de Portugal”). Mas outros mais autores o fizeram, com realismo e/ou fantasia: José Mattoso, Mário Domingues, Diogo Freitas do Amaral, Cristina Torrão, etc. José Carlos Oliveira escreveu um argumento para Cinema, “D. Afonso Henriques, o Primeiro Herói”, que jamais foi realizado na nossa 7.ª Arte, pois, ao contrário de outros países, evitamos no  Cinema
os nossos verdadeiros heróis e apostamos mais noutros ídolos de ocasião...
Por sua vez, Helder Costa, escreveu para o Teatro, “Afonso Henriques”, que foi levada à cena há algum tempo, pela Companhia “A Barraca”. Frisa-se bem, também aqui, as palavras finais do Conde D. Henrique, então moribundo,
ao seu herdeiro: “Desta terra que te deixo, não percas dela um palmo sequer, pois eu a ganhei com fadiga e trabalho”.
Em “Príncipes de Portugal, Suas Grandezas e Misérias”, Aquilino Ribeiro dedica um capítulo ao nosso primeiro rei... Para ler e rir e depois esquecer, pois devemos estar sempre bem conscientes que Aquilino, se escreveu bem e disso usou o seu sarcasmo, foi também muito venenoso por um estranho rancor pessoal e que até fez parte da conjura que efectivou o repulsivo Regicídio... É bom ter esta verdade em mente!
Afonso Henriques também está representado na Escultura, na Pintura, na Numismática, na Azulejaria, na Filatelia e, logicamente, na nossa Banda Desenhada.
Dos criadores desta nobre Arte (e afins), salientam-se os seguintes casos:

Eduardo Teixeira Coelho e Raul Correia inseriram uma narrativa curta - "A Balada da Conquista de Lisboa" - na grande epopeia "O Caminho do Oriente", banda desenhada de grande fôlego publicada na revista "O Mosquito", mais tarde reeditada a preto e branco pelas Edições Futura (1983). "A Balada da Conquista de Lisboa" foi também publicada a cores pelas Edições Época de Ouro (1996) e pelo Gicav (2017), num álbum lançado em Viseu há poucos dias e do qual falaremos em breve com mais detalhe...
"A Balada da Conquista de Lisboa", por Raul Correia (texto) e Eduardo Teixeira Coelho (desenhos),
in "O Mosquito" #749 (1946) a # 941 (1948)

Vitor Péon publicou primeiro, no "Mundo de Aventuras", "A Palavra de Egas Moniz"...
"A Palavra de Egas Moniz", por Vítor Péon, in "Mundo de Aventuras" #177 a #196 (1953)

...e, três décadas mais tarde, um belo (e raro) álbum: "Gesta Heróica".
"Gesta Heróica - Factos e Aventuras da História de Portugal",
por Vítor Péon (texto e desenhos), Editorial O Livro (1983)

José Baptista realizou, em seis pranchas, para a Colecção Audácia, "A Conquista de Santarém"...
"A Conquista de Santarém", por José Baptista (texto e desenhos),
in "Colecção Audácia" (5.º vol.) #6 a #11 (1957)

José Ruy, por três vezes trabalhou esta temática. Primeiro na notável adaptação da obra-prima de Camões, "Os Lusíadas"...
"Os Lusíadas" - volume 1, por José Ruy (adaptação e desenhos), Editorial de Notícias (1983)

Depois no álbum "Mirandês - História de uma Língua e de um Povo", com coordenação científica de Amadeu Ferreira...
 
"Mirandês - História de uma Língua e de um Povo", por José Ruy (texto e desenhos), Âncora Editora (2008)

...e finalmente nas "Histórias de Valdevez".
"História de Valdevez", por José Ruy (texto e desenhos), Âncora Editora (2016)

José Garcês e A. do Carmo Reis, na "História de Portugal em BD", não poderiam, logicamente, deixar de falar na figura do nosso primeiro rei...
"A Pátria Lusitana" (1.º volume da "História de Portugal em BD"),
por A. do Carmo Reis (texto) e José Garcês (desenhos), Ed. Asa (2003)

...assim como Artur Correia e Manuel Pinheiro Chagas.
"História Alegre de Portugal" (1.º volume),
por Manuel Pinheiro Chagas (texto) e Artur Correia (desenhos), Bertrand Editora (2008)

Seguimos com José Antunes, que desenhou "Ibne Arrink" com argumento de Agostinho Macedo...
"Ibne Arrink, o Conquistador", por Agostinho Macedo (texto) e José Antunes (desenhos),
in "Camarada" (2.ª série) #25 (1962) 

...ou desenhou "Egas Moniz", com argumento próprio...
"Egas Moniz", por José Antunes (texto e desenhos),
in "Camarada" (2.ª série) #21 (1963)

Santos Costa...
"Dom Egas Moniz, o Aio", por Santos Costa (texto e desenhos), Ed. CM Lamego (2003)

Pedro Massano...
"A Conquista de Lisboa" (2 volumes), por Pedro Massano (texto e desenhos),
Ed. Montepio Geral (1.º vol.) e Book Tree (2.º vol.)

Baptista Mendes, numa curta de duas pranchas, a preto e branco...
"A Tomada de Lisboa", por Baptista Mendes, in "Mundo de Aventuras" #91 (1975)

...e num trabalho inédito ("Guimarães"), à espera de ser publicado há alguns anos...
"Guimarães", por Baptista Mendes (inédito, 2012)

Eugénio Silva e Pedro Carvalho...
"Egas Moniz", por Pedro Carvalho (texto) e Eugénio Silva (desenhos),
in "Lições de História Pátria" - Porto Editora (1967)

"O Castelo de Guimarães", por Pedro Carvalho (texto) e Eugénio Silva (desenhos),
in "Lições de História Pátria" - Porto Editora (1967)

Eugénio Silva realizou também, num estilo humorístico, uma prancha onde parodia o hipotético nascimento de Afonso Henriques em Viseu, como alguns historiadores defendem...
"No Tempo dos Afonsinhos", por Eugénio Silva (texto e desenhos), inédito

José Projecto...
"Giraldo, o Sem-Pavor", por José Projecto (argumento e desenhos). Jorge Magalhães (legendas) e
Catherine Labey (na legendagem, composição da capa e paginação) também colaboraram.
Edições Futura (1986)

Jorge Miguel, num trabalho ainda inédito...
D. Afonso Henriques num trabalho de Jorge Miguel que se mantém inédito, por enquanto. 

Pedro Castro...
"Afonso Henriques", por Pedro Castro (texto e desenhos), Colecção "Herói" #2

Filipe Abranches e Oliveira Marques...
"História de Lisboa" (1.º Volume, Séc. I a 1580), por
Oliveira Marques (texto) e Filipe Abranches (desenho), Ed. Assírio e Alvim / CM Lisboa (1998)

...e Carlos Rico, que faz alusão a D. Afonso Henriques, em duas pranchas do seu álbum "A Moura Salúquia"...
"A Moura Salúquia", por Carlos Rico (texto e desenhos), Ed. CM Moura (1995)

Notas finais para António Manuel Couto Viana e Fernando Bento...
"A Minha Primeira História de Portugal", por António Manuel Couto Viana (texto)
e Fernando Bento (desenhos), Edições Verbo (1984)

...e para M. Gustavo (ou seja, Carlos Alberto Santos).
Ilustrações de M. Gustavo (pseudónimo de Carlos Alberto Santos), in "Jornal do Cuto"

Após Viriato e D. Afonso I, são raros os dirigentes máximos de Portugal que se podem exemplarmente registar. Honre-mo-los pois e sempre!

Nosso sincero agradecimento aos apoios que nos foram prestados por José Ruy, Carlos Gonçalves, Luís Valadas, Jorge Miguel, João Manuel Mimoso, Baptista Mendes, Eugénio Silva e Santos Costa.
LB/CR

14 comentários:

  1. Trabalho de fôlego, vale sobretudo como memória e homenagem aos mestres da nossa BD. Bem haja!

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    1. Caríssimo Carlos Almeida
      Um abraço grato por este teu comentário. Houve um grande trabalho de pesquisa, mas creio que resultou razoavelmente.
      Saudações bedéfilas
      Luiz Beira

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Excelente e quase exaustiva recolha de quanto os autores de BD (e afins) portugueses produziram sobre esta figura. Talvez fiquem só a faltar os cromos de Carlos Alberto para a História de Portugal da APR. Eventualmente, também poderiamos recordar os desenhos de Roque Gameiro e outros para a História de Portugal Popular e Ilustrada de Pinheiro Chagas, mas o contecto é outro. Obrigado.

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    1. Caro Almeida Martins
      Um abraço reconhecido por este seu amável e estimulante comentário. Há temas que são de grande luta na pesquisa para um resultado que satisfaça o melhor possível. Foi este o caso e, mesmo assim, há sempre pequenos dados que se escapam...
      Saudações bedéfilas do
      Luiz Beira

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    2. Suponho que o ilustre comentador é o igualmente ilustre e conceituado historiador Dr. Luís Almeida Martins, director da revista "História" (com quem colaborei pontualmente), publicação que teve o seu auge nessa época - não muito distante - e que dedicou um número especial à BD. Dirige actualmente a revista que se dedica à História no âmbito das publicações da "Visão".
      Para ele, o meu reconhecimento, com um abraço especial, este igualmente extensivo aos editores deste blog.

      Santos Costa

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    3. Caro Amigo Santos Costa
      Na verdade, a pessoa a que te referes, é essa mesma.
      Estabelecemos contacto recentemente, quando do post sobre o Serpa Pinto no BDBD. É muito afável, altamente conotado com a História e a BD, e temos opiniões muito convergentes.
      Um abraço
      Luiz Beira

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  3. Concordando com a questão do primeiro Rei dever ter mais proeminência na cultura nacional (Cinema, livros, BD), ressalvo que as "convenientes patranhas" fazem parte da psique portuguesa e contribuem fortemente para a formação de um povo sem grandes divisões e que contribuiram e contribuem para a resiliência de um país que dura já cerca de 900 anos.

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  4. Caro Luiz,
    Mais uma vez, é de inteira justiça felicitar-te por tão exaustiva recolha, num contexto que abrange várias décadas e que, por isso mesmo, não é de fácil consulta, em revistas e álbuns cujo rasto persiste, quase só, na memória nostálgica e nos arquivos privilegiados de alguns coleccionadores ou de autores como José Ruy.
    Queria, a propósito, informar-te de que o texto do álbum "Giraldo, o Sem-Pavor", ilustrado por José Projecto, foi escrito inteiramente por mim, a pedido do próprio autor, como, aliás, vem assinalado na dita obra, publicada pela Futura, quando eu coordenava todas as suas edições de BD.
    Um abraço de muita amizade e votos de boa continuação do admirável trabalho que estás a fazer, com o Carlos Rico, à frente deste blogue. Não admira que até ilustres historiadores como o Luís Almeida Martins o apreciem.
    Jorge Magalhães

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    1. Caríssimo Jorge
      Mais uma vez um comovente, amigo e estimulante comentário da tua parte. Maningue kanimambo! É um afecto que ainda não nos chegou (a mim e ao
      Carlos Rico) da parte do nosso Venerando, que também tem falhas!...
      Entretanto, para esta rubrica do BDBD, há um tema na forja (é segredo, por ora !...), que me vai dar outra valente trabalhêra. Mas que assim seja, enquanto eu ainda tiver devidas forças, pela honra da nossa História e da nossa Banda Desenhada.
      Aquele abraço
      Luiz Beira

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    2. Amigo Jorge Magalhães,
      Já corrigi a legenda onde, por lapso nosso, creditávamos o texto do "Giraldo" ao José Projecto (que "apenas" foi autor dos desenhos). Ao olharmos para a capa do álbum fomos induzidos em erro pois só aparece o nome do desenhador... Falha do capista ou modéstia em exagero da sua parte? :)
      Grande abraço
      Carlos Rico

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  5. Caríssimos amigos Luiz Beira e Carlos Rico,
    Sobre o assunto do "Giraldo", um belo álbum de estreia do talentoso José Projecto, que ficou sem continuação por azares vários (principalmente o valente "rombo" que a Futura levou da distribuidora, o que a impediu de prosseguir a sua actividade no campo da BD), quero frisar que não fui o autor do argumento, embora tenha dado uma ajudinha ao Projecto (como ele deve estar lembrado), a dado passo em que a história ficou "encalhada" :-)
    Ou seja, neste álbum coube-me quase exclusivamente tarefa idêntica à de Raul Correia na "Balada da Conquista de Lisboa", cujo texto escreveu com inexcedível mestria de narrador... e de poeta, pois a história era contada em verso! Mas a ideia original foi do E.T. Coelho.
    Posta a questão nos devidos termos, eis o motivo por que o meu nome não aparece na capa do "Giraldo", embora figure, obviamente, no preâmbulo da narrativa como autor das legendas.
    Resta-me acrescentar que a capista (sobre uma ilustração do J. Projecto), legendadora e paginadora deste álbum foi a Catherine. Que bela equipa fazíamos com a Futura nesses tempos! Mas como tudo na vida o sonho não durou para sempre! Ficou a obra do dr. Chaves Ferreira (com a nossa ajuda), como editor de BD... e não foi pouca!
    Um grande abraço aos dois,
    Jorge Magalhães

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  6. «são raros os dirigentes máximos de Portugal que se podem exemplarmente registar. Honre-mo-los pois e sempre!»

    Não são raros.Como´é que se pode dizêr uma coisa dessas?!
    Os da 1ª Dinastia, tôdos fôram Grandes Reys e Estadistas(para não falar em outros Heróis nos diferentes reinados), os da 2ª Dinastia a começar por Dom João I, O Mestre de Avis, O Grande e Santo Condestável Dom Nuno Álvares Pereira ,a Ínclita Geração, o Grande Dom João II , O Grande Dom Sebastião(para não falar nos MUITOS Heróis nos diferentes reinados).Não que não tenha sempre havido Grandes Portuguêses(sec XVII e XXI), mas depois, sim, a partir do sec. XVII é que houve um constante enfraquecimento dos Líderes Nacionais até chegarmos ao estado Depolorável de hôje...mas Falta pouco...falta pouco para a Restauração de Portugal Soberâno.
    Cumprimentos e Muito Obrigado pelo artigo.

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    1. Os da 1ª Dinastia, excepto Dom Fernando que foi fraco e influenciável...

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